sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entrevista com Pe Marcos Mendes de Oliveira

Entrevista com Pe Marcos Mendes de Oliveira
. Logo quando cheguei à praça onde fica localizada a Paróquia Jesus, Maria e José vi o Pe Marcos Mendes de Oliveira cuidando da grama recém inaugurada depois de uma reforma feita na praça pela paróquia. O Pe recolhia latinhas de cerveja, papeis e qualquer tipo de sujeira que apareceria a sua frente.
Carlos Emanuel
. Somente no dia seguinte iniciamos a conversa entre várias paralisações para que o Pe Marcos fosse atender as várias pessoas que esperavam seu auxilio, seja pedindo lanche: o caso de um grupo de crianças que todas as tardes iam lanchar lá, ou mesmo fazer orações espirituais de libertação, foi quando um rapaz esteve por lá e estava cheio de problemas e foi acolhido pelo Pároco do Vila União.
. Da mesma maneira o Jornal Une Vila foi recebido por um Padre que dedica o cuidado a Paróquia e a praça da mesma maneira que dedica seu olhar para as pessoas e o diálogo com as diversas correntes de grupos de fé que estão dentro e ao redor do trabalho religioso.
. Tarefa não menor o Pe Marcos dedica a dar aulas para jovens seminaristas e futuros Padres da igreja católica. O grande exemplo que ele se espelha com os grandes nomes da Igreja do passado e que foram para ele pedras fundamentais para o seu apostolado. Acompanhe a entrevista concedida em dezembro de 2010 ao Jornal Une Vila pelo Padre Marcos:

Carlos Emanuel Bezerra Alves: Fale-me um pouco sobre sua trajetória antes de vim trabalhar no Bairro do Vila União
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Eu sou natural de Parnaiba-Pi, mas vim muito novo para Fortaleza, quando tinha apenas seis anos de idade com a mudança da minha família para cá. Nesse período me envolvi com a igreja e entrei no seminário com 19 anos de idade, passando 11 anos para ser ordenando pela Arquidiocese de Fortaleza, onde fui muito acompanhado durante esse período pelo Arcebispo da época Dom Aloísio Lorscheider, sendo ordenado Padre em 1992 quando se fazia a memória 500 anos dos Europeus na América, um período de muito debate sobre a colonização Européia na America Latina. Num primeiro momento após a ordenação passei 4 meses no Antonio Bezerra, depois passei 8 anos no Maracanau, onde fiz diversos trabalhos por lá numa perspectiva social. Depois fui transferido para o bairro Seis Bocas, trabalhando no Edson Queiroz. Depois entre 2001 e 2005 estive fora, fui estudar em Roma, onde fiz meu mestrado e doutorado na linha da Moral Social, uma linha de Igreja que é ligada a questões éticas e políticas.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Quando foi que retornou ao Brasil? E que período iniciou seus trabalhos no Bairro do Vila União?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Retornei em 2005 e em 08 de fevereiro de 2006 estava sendo apresentado aqui.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Soube que além do seu trabalho como Pároco, você realiza outro importante trabalho a de formação de seminaristas, fale um pouco sobre isso
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Sou professor de Teologia e Filosofia para os seminaristas, na parte de filosofia política, ética contemporânea e também na teologia a parte relacionada com ética, como bioética relacionada à vida desde a sua concepção até a morte. Trabalho também a perspectiva dos ensinos sociais da igreja no que diz respeito o pensamento da igreja sobre liberalismo, socialismo, sobre a questão da justiça do bem comum, as questões ecológicas que emergem bastante em muitos setores e que a igreja busca dá sua contribuição nessa discussão.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Quando você chegou a Paróquia Jesus, Maria e José, como foi a aceitação da comunidade ao seu trabalho? Você acha que foi bem recebido?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Dizer sobre a aceitação ninguém pode afirmar nada, pois não sabemos sobre os bastidores o que as pessoas falam. Num primeiro momento agradeci muito a comunidade, pois sei como é difícil para eles ter um Padre que é professor, que ao mesmo tempo em que está na Pastoral, está também ensinando e meu tempo maior é no ensino. Durante manhã e tarde dou aulas e somente à noite e fins de semana que me dedico a Paróquia. Num primeiro momento por isso, achei a comunidade muito paciente, pois através do entendimento dela é que posso realizar as duas atividades.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Você me falou do seu trabalho com a questão social, queria saber como você trabalha essa questão aqui no Bairro do Vila União?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Quando falo de perspectiva social falo disso enquanto seres humanos que está inserido na sociedade e que não é uma ilha isolada. A Igreja se entende como uma instituição importante que têm a missão de levar a fé em Jesus Cristo, seu projeto a sociedade e que diz respeito às muitas realidades de vida do ser humano. Aqui como em todos os lugares têm as coisas boas e ruins, posso falar que as boas é que têm grupos pequenos interessados na participação política, na conscientização, na mobilização, na evangelização. Sei que ainda existe uma grande massa alheia aos problemas, as realidades. Por isso eu entendo que a política não é só aquela política partidária, essa é apenas um setor da política. Às vezes as pessoas pensam que a política é só o Prefeito, o vereador. Acho que não, vejo que tudo aquilo que fazemos para o bem estar da saúde, da urbanização, do meio ambiente, da educação, não necessariamente têm que ser do partido para fazer algo pelo bem comum. Aqui no bairro eu sinto a falta de organismos sociais no bairro, vejo que onde existe mais organismos como Ong´s, associações, têm se mais poder de reivindicações. Com todo respeito à política, eu sinto falta de lideranças políticas preocupadas com o bairro, eu admiro um, ou outra pessoa que não é necessariamente político.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Quando cheguei para lhe entrevistar vi você pessoalmente cuidando da praça. Você falou de Ecologia, como é esse trabalho na Praça do Vila União?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: A partir da teologia a gente é muito provocado a ação, eu mesmo trabalho a teologia ligada a ecologia, onde temos nossas provocações teóricas. E no primeiro e segundo ano quando cheguei aqui, nós nas reuniões do Conselho Pastoral avaliando as atividades da Igreja tivemos o desejo de ter uma atenção especial a Lagoa do Opaia, onde investimos e já realizamos quatro atividades em quatro anos na Lagoa para promover uma consciência ecológica de limpeza e de responsabilidade e depois refletindo pensamos: estamos preocupados com a Lagoa e a praça deteriorada de frente para nós, no caso a Igreja e não fazemos nada. Faz uns três anos que estou tentando aqui no bairro dá um rosto novo a Praça para que possa oferecer no Natal e no Ano novo algo mais bonito para a comunidade. Víamos uma praça totalmente seca, sem brilho. Um problema que sabemos que não é apenas do Vila União, em toda a cidade vemos praças descuidadas e um olhar maior para praças em áreas nobres, por isso sinto muita desigualdade em toda a cidade, umas praças muito prestigiadas e outras abandonadas. Durante esses três anos estamos tentando sem lograr êxito, até foi procurado órgãos públicos, onde só existia promessa, uma atrás da outras, ai pensou-se basta vamos fazer nossa intervenção na praça da nossa condição, depois vieram os políticos dizer que tinha cento e vinte mil reais, ai falei que eles poderiam investir o dinheiro e o resto a Paróquia com ajuda da comunidade completava, até agora esse dinheiro não apareceu. O que aconteceu então foi que nós da Igreja fizemos um debate sobre a questão da praça, falamos da importância de mudar a mentalidade, da cultura dos próprios freqüentadores da praça para fazer mais atividades artística, culturais, esportivas, nós tínhamos que mudar o que era oferecido.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Então o que foi preciso fazer para se mudar essa visão da praça como algo negativo, para uma visão positiva e integrada da praça com a vida das pessoas da comunidade?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Foi feito uma reforma no jardim a partir do dinheiro de contribuições oriundas dos dizimistas do próprio bairro. É importante saber que se fosse feito pela Prefeitura era um dinheiro do povo, mas as pessoas acham que quando é do órgão público têm que depenar. Como o material foi feito por eles, começaram a valorizar e preservar a praça, mas nem todos pensam iguais ainda têm alguns moradores que não se preocupam e tentam danificar o que foi feito, querendo quebrar, roubar, sujar, etc. O problema maior não é limpar a praça, porem sujar. Nós brasileiros temos uma mentalidade escravagista, sempre deixamos as coisas sujas como se tivesse um escravo ali para limpar. Às vezes as pessoas criticam a Prefeitura, mas o problema não é só os poderes públicos, às vezes o problema passa pelo próprio povo. Muitas vezes têm pessoas ajeitando os canteiros da praça e logo depois vêm outros e quebram. Falta em geral uma participação responsável de toda a comunidade. Quando demos cara nova à praça pela criação dos jardins, as pessoas queriam que houvesse um funcionário fixo fazendo o trabalho de preservação da praça, mas o ideal é que todos da comunidade participem e elas mesmas cuidem e zelem. Outro tempo a Prefeitura tinha colocado um funcionário, quando ele não veio mais a preservação ficou perdida.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Fale um pouco sobre as atividades da Paróquia em diversos setores como os idosos, jovens, etc.
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Nós temos a pastoral do idoso, que é uma pastoral fantástica e que já têm 37 anos e que é sustentada muito na base da amizade de seus integrantes, têm até pessoas que saíram do bairro, mas continua ligada a pastoral daqui. E em relação ao jovem temos diversos grupos ligados, de oração, de pastoral de crisma, temos grupos ligados diretamente à recuperação de pessoas viciadas com drogas e com álcool tem também o grupo amo anjo pai que é toda voltada à evangelização da juventude na Santa Luzia, temos o Vinde a Mim que têm muita juventude participando. Nós temos muitos jovens dentro da Igreja graças a Deus.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: quais são as principais festividades realizadas durante o ano?

Padre Marcos Mendes de Oliveira: A grande festa da Igreja é Páscoa, nós temos a via sacra pelas ruas na sexta-feira da paixão. Nesse ano de 2011, no período do carnaval vamos fazer a Festa da Luz, onde vamos oferecer um retiro aqui na Igreja para as pessoas que querem rezar, ter um momento diferente, possa se aproximar mais da oração da espiritualidade, conversar com nosso senhor, esse evento já era feito em anos anteriores. Outras festas que temos grande por aqui é a festa dos padroeiros, temos a festa de Jesus, Maria e José que fazemos no período de agosto dentro do mês vocacional onde rezamos pelas famílias. Temos também um encontro em forma de retiro da eucaristia que fizemos ano passado no ginásio as irmãs Salesianas.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: O que têm sido feito em relação às jovens que precocemente se tornam mães no Bairro do Vila União?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Na verdade a gente faz muito pouco. Nós temos uma posição, uma reflexão sobre isso, mas uma coisa é refletir e outra é encaminhar ações concretas. Mas podemos ver que os estudos que têm sobre gravidez precoce, diz que muitas são afastadas do mercado de trabalho. Primeiro precisaria de uma educação sexual mais aprofundada, não acho que se resolve esse problema com distribuição de camisinhas; a educação sexual deve ir à linha de que a pessoa que quer construir um projeto de vida com outra pessoa e ai uma história, não simplesmente ficar na brincadeira oferecendo sua parte mais intima e depois não ter a condição de assumir essa responsabilidade. Acho que a educação pra vida a dois é uma coisa muito mais profunda do que simplesmente distribuir camisinhas acho uma política muito rasteira como o ministério de saúde tenta fazer.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Para evitar gravidez indesejada então vocês tentam outras maneiras. Quais são elas, além claro da educação sexual nos moldes cristãos? E o que mais aflige a juventude e o que é feito para orientá-los?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Nós temos um médico que nos acompanha que é ligada a Igreja e que orienta os jovens na vida e nos riscos que podem ter quando não se cuidam e não respeitam algo precioso. Sabemos que isso é muito pouco, pois as solicitações, as drogas, não são sós a questão da sexualidade. Particularmente em questão a isso a Igreja em Fortaleza têm quatro grandes opções de trabalho pastoral: formação, missão, família e juventude, nós aqui no Vila União estamos trabalhando três anos em relação a esse ponto. Além da sexualidade o grande problema são as drogas, estamos muito preocupados com o avanço das drogas dentro do espaço. Nós oferecemos nesse ano em janeiro o Projeto Nova Geração que abordava, sexualidade, esporte e a questão cultural. Nós já estivemos debatendo aqui sobre a possibilidade de termos um espaço para mães precoces, pois em outros lugares de Fortaleza já existem lugares onde se acompanham exclusivamente as mães precoces. Para termos esse projeto com as mães precoces aqui devemos esperar a manifestação da comunidade e também aquelas pessoas que podem se disponibilizar a trabalhar com isso.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Quais as outras dificuldades que você observa aqui na comunidade do Vila União?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Nós temos também aqui muitas crianças com fome, também tentamos aqui articular a Pastoral da Criança, pois eu conheço o trabalho, pois aonde ela chega altera os índices de mortalidade infantil. Aqui no bairro ainda não pegou essa idéia, que depende muito da resposta das pessoas que queiram ser voluntárias para isso. Aqui somos uma Paróquia relativamente pequena as pessoas que aqui são poucas, mas têm muito trabalho e ficam sobrecarregadas, porém isso não impediria que abríssemos novas fronteiras, por isso acredito que estamos muita aquém daquilo que poderia ser feito.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Como é que a Igreja chega à comunidade na divulgação, como a comunidade fica sabendo dos eventos da Paróquia? As pessoas vão a Igreja? Ou a Igreja que vai até as pessoas?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Nós vamos a Igreja, um exemplo a festa do Padroeiro nós saímos aqui da Paróquia e vamos até o campo da Lagoa do Opaia. Nós temos experiência de fazer celebrações nas ruas, nós tentamos ira ao encontro das pessoas, fazemos visitas às casas. Nas missas campais fazemos na perspectiva de ter mais contato com a população. Antes tínhamos um pequeno jornal, mas não foi para frente. Nós divulgamos nossas atividades, através de carros de som e também pela Fm Dom Bosco, por isso quando queremos divulgar alguma atividade procuramos as rádios católicas de Fortaleza.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Uma coisa que estamos vivendo hoje é a revolução tecnológica, com as mídias digitais, hoje têm o twiter, comunidades de relacionamento, sites, Como você vê a atuação da Igreja dentro desses meios de comunicações novos?
Padre Marcos Mendes de Oliveira: Eu acho que a Igreja tenta ocupar esses espaços, inclusive sobre orientação do Vaticano, tem o site do Papa e o próprio Vaticano bate muito nessa tecla de que se deve se usar novos métodos de evangelização. Nesse ponto aqui no Vila União somos ainda fracos, um ou outro grupo têm seu site separado, não temos um site específico da Paróquia , isso também porque exige manutenção e meu tempo é muito limitado pra fazer Pastoral e pra fazer estudo. Aqui na Pastoral fazemos muitas atividades renovadoras, temos muito a comunicar e temos muita a partilhar para a mídia. Falta articulação, já me procuraram pessoas dizendo que queriam fazer um site e eu sou da visão de quem tem a idéia faz e as pessoas começam algo e não colocam para frente. Sei que existem momentos como semana santa e outros momentos fortes dentro da Igreja e que pessoas doentes não podem comparecer, se tivesse isso transmitido via internet as pessoas mesmo doentes poderiam participar.
Carlos Emanuel Bezerra Alves: Quando cheguei hoje na Igreja vi diversas pessoas adorando o Santíssimo, Quando e como as pessoas podem estar presentes na Igreja em adoração?

Padre Marcos Mendes de Oliveira: Quando eu cheguei aqui, resolvi fazer um espaço de oração que a Capela do Santíssimo, pois aqui a praça era muito barulhenta não dava para rezar e nós temos a felicidade de ter um sacrário que foi feito por um artista da terra Descartes Gadelha artista internacional que têm um Museu de Canudos que ele presenteou, foi o trabalho feito em 20 anos, ele nos presenteou com o projeto das portas e do sacrário que é em forma de carnaúbas estilizadas. Depois de dois anos nós fizemos o Encontro Eucarístico em homenagem aos dois anos da capela, depois desse encontro resolvemos expor o Santíssimo em adoração de segunda a sábado do amanhecer até o anoitecer, quem quiser ter um conversa com Deus as portas estão abertas.










Um comentário:

  1. Que longa e proveitosa caminhada...parabéns Padre Marcos, que o Espirito Santo continue o iluminando para trazer mais e mais fieis para a Casa do Senhor!

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